segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Sistemas de Recompensa funcionam!.... ou não!

Noutro dia quando fui buscar a minha filha na escola (ela anda no 2º ano) ela, com algum entusiasmo, começou a descrever um sistema de recompensas que a professora de artes plásticas tinha montado para a turma. Não vou entrar em grandes pormenores, mas resumindo, quem se “portasse muito bem” durante um mês inteiro, iria receber um prémio…. No fim da conversa, a mina filha perguntou-me “Oh, mamã, o que achas disto?” “O que achas que eu acho, filha?” A Liv ficou calada durante um segundo ou dois e depois disse “Eu acho que tu não gostas…”. 

Pois não, não gosto, e não só não gosto como acho contra produtivo e problemático.

Sistemas de recompensa não funcionam? Funcionam!!! Tanto com crianças como com adultos… mas tudo que funciona hoje é bom amanhã? 

Há muitas provas científicas que demonstram que recompensas não afectam a motivação interna. Até há estudos que demonstram que recompensas externas até diminuem a motivação interna! (por exemplo: Deci, E et al. A meta-analytic review of experiments examining the effects of extrinsic rewards on intrinsic motivation. Psychological Bulletin. Vol 125(6), Nov 1999 e o Daniel Pink também fala disto no Drive).

Quando falo de sistemas de recompensa refiro me a sistemas mais elaborados que são utilizados para conseguir um comportamento/rotina nova. Em casa por exemplo para a criança começar a adormecer sozinha, ou os quadros na escola com as estrelinhas ou caras felizes para os meninos que se “portam bem”. Mas também falo das recompensas “espontâneas”, tipo “Se apanhares os teus brinquedos dou-te um gelado.” As duas situações são problemáticas por várias razões, vou falar de algumas….


O propósito
Muitas vezes quando se trabalha com estes sistemas nos infantários e nas escolas (e também em casa) faz se uma tabela onde é fácil visualizar a “pontuação” da criança. Por um lado podemos dizer que a criança tem poder de influência sobre o sistema, como consegue entender e ver que se fizer X recebo Y. E isso cria o propósito. E o propósito é o grande problema. O propósito para a criança é receber O Prémio. É isso que queremos ensinar? Queres que a criança faça algo porque ela quer fazé-lo (e entende que é importante fazer essa coisa) ou porque recebe uma Barbie? 

O guia interior
Ao serem muito expostas aos sistemas de recompensa, ou pequenas recompensas “espontâneas”, as crianças deixam de ouvir “o seu guia interior”, não ouvem a própria vontade, e começam a agir geridos por recompensas externas. 

Uma professora com quem falei uma vez sobre estes assuntos, contou-me que um menino na turma dela chegava sempre atrasado a sala depois dos intervalos. Para motivar o menino a chegar a horas, ela montou um pequeno sistema que significava que se o menino chegasse a horas após todos os intervalos durante 10 dias seguidos, ele ia ser delegado da turma durante o mês seguinte (uma coisa que o menino ansiava ser). Certo dia o menino estava a brincar com uma menina no recreio. A menina ficou presa entre duas pranchas ao mesmo tempo que se ouvia o toque de entrada. A professora estava a porta a assistir a cena… A menina pediu ajuda ao menino mas ele já estava a correr e gritou “Não posso ajudar, tenho que entrar!”. A professora percebeu que, com o seu sistema de recompensa (que tinha as melhores intenções!) tinha criado uma situação em que o menino não quis ajudar a amiga por causa do prémio! 

Enquanto a criança é pequena, nós como pais até conseguimos controlar a situação mais ou menos, mas ao crescer se calhar um dia o teu filho vai estar a frente de um amigo que lhe diz: “Dou te um Beyblade se baixares as calças ao João”…. Se… ou quando, esse dia chegar, queremos que o nosso filho saiba ouvir o seu guia interior. Se esse guia tiver sido calado com recompensas e prémios… a criança vai se guiar pelo prémio que irá receber….. 

Dependência da Recompensa
Quando os nossos filhos estão expostos aos sistemas de prémios e recompensas nas escolas (e em casa) estamos a criar pequenos dependentes de validação externa. Noutro dia falei com uma mãe que me contou que o filho, o Tiago, tinha chegado a casa muito, muito triste. O Tiago tinha partilhado a sua fruta com um menino da turma, mas como a professora não tinha visto, ele não recebeu nenhum “lindo menino” e pior ainda, ficou sem estrelinha pelo “bom comportamento”! E em conversa com a mãe percebi que este o Tiago tem uma fraca auto-estima e está completamente dependente de validações externas (por que foi habituado a um sistema de prémios e elogios). O rapaz não se sabe sentir bem com as coisas “boas” que faz… só se sente bem se alguém elogiar o comportamento dele de alguma forma. E podemos sempre especular se o rapaz, ao partilhar a fruta, estava a ouvir o seu guia interior, ou se era a estrelinha a chamar..…. 

A criança começa a fazer a mesma coisa com irmãos, amigos (…e com os pais)
Após algum tempo qualquer pai que utiliza sistemas de prémios e recompensas (ou que tem filhos que andam em escolas onde isso é utilizado…), vai notar que a criança começa a reproduzir o sistema. O meu filho do meio é um óptimo exemplo disso, que neste momento está a testar este sistema de manipulação com os pais, os avós, os irmãos…. (Aliás, ele é tão bom que a escolinha dele merece uma conversa comigo!… ;o))

E vejo crianças a faze-lo em todo o lado.... Noutro dia no Jumbo...

-Mamã! Se me deres aquele Ursinho de peluche dou te um beijinho!
-Não. Tens que pedir ao Pai Natal!
-Se não me deres o Ursinho nunca mais te dou beijinhos!

A criança começa a negociar os prémios
Nos sistemas de recompensas vai mais cedo ou mais tarde haver inflação… a criança começa a negociar… Quero 3 estrelas, não uma, para apanhar os meus brinquedos. Rapidamente ensinamos as crianças a pensar “o que eu tenho a ganhar com isso?”....

Resumindo e concluindo...
Antes de tu como mãe/pai ou educador decidires utilizar um sistema de recompensa pergunta-te qual o teu objectivo. O que queres ensinar a criança? Que tipo de adulto queres ajudar a desenvolver? Queres uma criança que entende que pode fazer o que os outros dizem desde que ele tenha algo a ganhar com isso? Ou queres que o teu filho se torne num individuo independente e responsável?

E para acabar,  pensa em ti próprio. Se tiveres tido uns dias muito stressantes no trabalho, ou se estás um pouco triste com a vida em geral… chegas a casa ou ao trabalho irritado e com pouca paciência…. O que preferias: Um autocolante bonito se te “portares bem” (e ficar de castigo se não o fizeres..) ou ajuda para mudares a tua situação?


3 comentários:

  1. bom texto, abordou que o sistema de recompensa nao funciona, mas tb não mostrou o sistema que realmente funciona.!!!!

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  2. Funciona se tb não houver recompensas, ou seja castigo.. Além disso só se falou em recompensas materiais e o sistema de recompensas pode servir de a nível sentimental para aproximar pais e filhos principalmente aqueles que têm pouco tempo porque a recompensa pode ser fazer alguma coisa juntos e assim todos são compensados ;)

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  3. Funciona se tb não houver recompensas, ou seja castigo.. Além disso só se falou em recompensas materiais e o sistema de recompensas pode servir de a nível sentimental para aproximar pais e filhos principalmente aqueles que têm pouco tempo porque a recompensa pode ser fazer alguma coisa juntos e assim todos são compensados ;)

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