segunda-feira, 18 de agosto de 2014

terça-feira, 15 de julho de 2014

Como entender o comportamento? Os 6 pressupostos fundamentais!

© MamaMia
Quando praticamos Parentalidade Consciente não olhamos para o comportamento das crianças como algo a corrigir, olhamos para o comportamento como algo a entender para depois poder fazer as mudanças que achamos necessárias (sejam elas relacionadas connosco ou com a criança ou ambos)! Muitas vezes, principalmente quando não estamos habituados a esse processo de reflexão, pode ser desafiante entender. A boa notícia é que, como sempre, quanto mais praticarmos, mais fácil fica

Quero-te apresentar alguns pressupostos que, pessoalmente, acho útil ter presentes no processo de entendimento do comportamento e na procura de soluções para lidar com o mesmo.

1. Todo o comportamento existe para satisfazer necessidades. 
Eu acredito que tudo o que faço, faço porque quero satisfazer algum tipo de necessidade. Tudo que tu fazes, fazes porque queres satisfazer algum tipo de necessidade. Tudo que o teu filho faz, faz para satisfazer algum tipo de necessidade! 

É fácil observarmos necessidades como fome, sede ou sono. A satisfação ou insatisfação destas necessidades, como todos certamente já sabemos, podem originar conflitos. Existem também outras necessidades mais profundas, e de observação mais subtil, que vale a pena explorar. 

Quando escrevo este artigo faço-o porque tenho uma necessidade de contribuir para melhores relações entre pais e filhos e também tenho uma necessidade de ser ouvida e reconhecida. 
Quando lês este artigo se calhar é porque tens uma necessidade de saber lidar melhor com os conflitos que tens com o teu filho.
Quando o teu filho faz uma grande birra porque não quer vestir a roupa que escolheste se calhar é porque ele tem uma necessidade de ter mais influência sobre a vida dele. 

Portanto, uma pergunta chave é; qual a necessidade que a criança está a procurar preencher através do seu comportamento?

2. O mapa não é o território
Quando tens dificuldade em pensar em possíveis intenções e necessidades por preencher a melhor coisa que podes fazer é assumires a posição do teu filho. Quando utilizas o pressuposto de que o mapa não é o território entendes também que não há uma verdade ou realidade absoluta. A nossa realidade é completamente subjetiva e para encontrarmos soluções para eventuais conflitos é essencial perceber que a realidade do teu filho é diferente da tua. 
A pergunta a fazer é: Qual o mapa do meu filho?

3. A intenção de um comportamento é sempre positiva.
Este ponto pode ser desafiante aceitar. Mas convido-te a fazer o exercício de aplicar também este princípio. É bom lembrar que ”o mapa não é o território” e a intenção é positiva do ponto de vista do mapa da criança. 

Quando uma criança bate noutra, na superfície, não parece nada positivo. Mas se utilizarmos os pressupostos apresentados aqui vamos olhar além do que está visível. Se calhar a criança que bate tem uma necessidade de maior contacto. Se calhar tem uma necessidade de ser vista e reconhecida. Se calhar tem uma necessidade de sentir mais calma e harmonia. Não estou a dizer que a estratégia escolhida é a estratégia certa (além disso a estratégia de uma criança é praticamente sempre escolhida inconscientemente), mas olhando para as coisas desta forma temos a oportunidade de encontrar estratégias alternativas, e mais positivas, para satisfazer a mesma necessidade. 

Ou seja quando procuras a intenção do comportamento, nunca pode ser ”ele quer chatear” ou ”ele quer magoar”… se notares que chegas a essas respostas, tens de pensar mais um pouco, ”Mas porque é que ele está com vontade de chatear? Qual a intenção positiva deste comportamento?”

4. Existem sempre várias formas/estratégias para satisfazer cada necessidade.
Quando apenas digo à criança que está a bater que ela não pode bater, ou se a puser de castigo porque bateu, o que ela vai perceber é que a necessidade dela não pode ser preenchida, que o que ela está a sentir não tem valor. O que muitas vezes leva a mais conflito, porque a criança continua a ter a mesma necessidade

Imagina que a criança na situação em cima em vez das necessidades propostas tinha fome, ou seja a necessidade de se nutrir, e a outra criança tinha um pão. Ou seja, a primeira criança bate na segunda porque quer o pão. Provavelmente o teu único foco não seria repreender a criança porque bateu, também ias procurar satisfazer a necessidade de nutrição.

Consequentemente, terás de fazer a pergunta: Que formas/estratégias existem para satisfazer a necessidade em questão?

5. Com flexibilidade posso satisfazer as minhas necessidades e as necessidades do meu filho.
Sim, é mesmo possível, desde que não tenhas a crença que tem de ser sempre à tua maneira e quando tu queres. 

Imagina que estão a chegar a casa após um dia longo de trabalho. Antes de começar com a logística do jantar estás com vontade de ficar sentado na sala a conversar um pouco com o teu parceiro. As crianças estão cheias de energia e começam com brincadeiras elaboradas e em alto som na sala. Uma situação que facilmente leva a conflito… 

Se olhares primeiro para as necessidades presentes, tanto as tuas como as das crianças consegues ver que tu tens necessidade de calma e eles estão com necessidades de contacto e diversão. Quando sabes isso, pergunta; que tipo de soluções podem existir para satisfazer as necessidades de todas as pessoas envolvidas

Se calhar as crianças podem ir brincar noutro sítio da casa ou lá fora.
Se calhar tu e o teu parceiro podem ter a conversa noutro sítio. 
Se calhar tu e o teu parceiro podem dar um pequeno passeio.
Se calhar podem todos dar um passeio.
Se calhar as crianças estão dispostas a fazer uma brincadeira mais calma.
etc.

Se utilizares uma solução que não funciona, então provavelmente quer dizer que ainda existem necessidades por satisfazer. Em minha casa por exemplo muitas vezes se eu e o meu parceiro vamos para outro sítio, as crianças vêm atrás…. o que provavelmente quer dizer que existe uma necessidade de ligação e contacto connosco. Então temos de pensar noutra solução. Será que dá para termos a nossa conversa ao lado de uma brincadeira um pouco mais calma? Será que podemos todos ver televisão durante um pouco? Será que podemos entrar na brincadeira durante 15 minutos para depois poder ter um pouco de calma? Será que podemos falar durante 15 minutos para depois participar na brincadeira?

6. Resistência é sinal de falta de conexão.

Se a criança continua a resistir à tua mensagem ou à tua pessoa, essa resistência impede a solução da situação. Quando o teu filho continua a resistir é sinal que  ainda não conseguiste gerar o nível de confiança suficiente para que a tua comunicação seja apreciada sem ruído. Quando utilizas este pressuposto utilizas a pergunta ”O que posso mudar na minha comunicação para gerar mais conexão?”

São estes os 6 pressupostos que te convido a explorar. As únicas coisas necessários para realmente explorar os pressupostos são curiosidade, paciência e presença. E vai correr tudo bem, com certeza! 

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Como extinguir comportamentos indesejados nos maridos.


© MamaMia
Andei muito farta de alguns comportamentos do meu marido e encontrei este artigo com uma sugestão e uma técnica muito interessante para conseguir extinguir os comportamentos indesejados nos maridos. Gostava de partilhar uma parte do artigo contigo. 


"Extinguir maus comportamentos nos maridos?

Extinguir comportamentos nos maridos é uma estratégia de controlo. No fundo, pretende-se eliminar comportamentos desadequados e que foram anteriormente reforçados de forma inadvertida, aumentando a probabilidade de continuarem a acontecer.
Esta estratégia pode ser usada em comportamentos como choramingar, gritar, atirar coisas para o chão, fazer queixinhas. Por norma, as mulheres não se apercebem que estimularam estes comportamentos quando lhes deram atenção nas primeiras vezes em que foram manifestados. 

(…) 

Por exemplo, um pedido de uma bolacha aos gritos pode ser ignorado, mas um pedido de uma bolacha num tom de voz adequado pode ser reforçado, não só por dar a bolacha como também ao fazer um elogio.

É muito importante que os comportamentos a extinguir sejam facilmente observáveis, se compreenda o seu início e fim, e ocorram com alguma frequência.

Ignorar pode ser a parte mais difícil desta estratégia. Como o fazer?

Desvie o olhar;
Recorra ao silêncio naquele momento, não interagindo ou falando com o marido;
Saia do contexto onde a situação está a ocorrer.
Ou seja, não dê qualquer atenção ao marido no momento em que ele está a manifestar o comportamento desajustado. É possível que, de forma transitória, o comportamento desadequado aumente de “intensidade”. Mantenha-se firme e, paralelamente, recorra ao elogio logo que o comportamento esperado ocorra.

(…) 

Preparado para extinguir os maus comportamentos?"


Pois, imagino que já percebeste que estou a brincar… Mas o texto é recente e tirado de uma página que fala de educação de crianças. Só que troquei criança por marido, e cuidador por mulher. Podes também trocar criança por idoso ou imaginar a mesma situação como uma recomendação para chefes extinguirem o comportamento desadequado dos colaboradores…. e depois especular quais seriam as reações.

Acredito que, a pessoa que escreveu este artigo tem uma boa intenção e tenho a certeza que quer realmente ajudar. A minha intenção com este artigo é oferecer uma visão alternativa, uma visão que acredito ser um pouco mais completa e mais profunda. Uma visão mais respeitadora. Cada um depois vai poder fazer as suas reflexões e escolher a sua forma de agir.  


O comportamento
Ao meu ver, quando educamos, é essencial pensar ao longo prazo, é essencial refletir quais as consequências e reais aprendizagens da criança. É importante saber quais os nossos valores e quais as nossas intenções. Acredito também ser útil perguntar, nesta caso específico, porque é que é importante "extinguir o comportamento da criança"? 

Para mim, esta visão da criança e o seu comportamento não é extremamente limitadora, como perigosa. Isto porque se está a ignorar por completo a razão e a intenção de trás do comportamento. Está-se a agir como se o tal choramingar, o gritar, as queixinhas, fossem apenas comportamentos indesejados, desadequados e como são comportamentos que chateiam podem ser simplesmente eliminados. Sem assumir nenhum tipo de responsabilidade pelo comportamento da criança, sem ter em mente que as crianças são espelhos dos adultos (será que há mais alguém na família que grita quando quer alguma coisa?). Não se está com nenhuma curiosidade em relação à vida interior da criança, não se quer saber das verdadeiras emoções que a fazem agir da forma que ela está a agir. Está-se a comunicar que algumas emoções que existem não são desejadas, e que não há espaço para essas emoções, e a criança não pode mostrar o que está realmente a sentir. 

Também não se está a mostrar os próprios limites do adulto de uma forma construtiva. A criança não sabe com que se relacionar. Além disso uma criança pequena não se consegue separar do seu próprio comportamento, ou seja ela não vai perceber que é o comportamento que é inadequado, vai perceber que é ela que é inadequada, que ela não tem valor quando sente o que sente, vai perceber que ela assim não merece amor, vai perceber que só com determinado tipo de comportamentos merece o amor das pessoas. 
(consegues pensar em consequências disto no futuro se for repetido muitas vezes?) 


(Ignorar um comportamento é uma forma de castigar a criança pelo seu comportamento. Se sentes que necessitas de umas ideias para alternativas, espreita aqui.)

A frequência 
Uma frase no texto diz:
muito importante que os comportamentos a extinguir sejam facilmente observáveis, se compreenda o seu início e fim, e ocorram com alguma frequência."

Quando eu como mãe observo um comportamento que ocorre com alguma frequência, e se eu ainda por cima consigo ”compreender o início e o fim”, antes de qualquer tentativa de ”extinguir o comportamento” vou fazer uma reflexão e investigação sobre o que é que realmente se está a passar. Quando quero criar uma boa relação, quando o meu foco está na colaboração e não na obediência, nunca tenho o objetivo de extinguir um comportamento; em primeiro lugar quero percebê-lo.

Quando uma criança pede uma coisa ela está na realidade a pedir duas coisas: a coisa em si e conexão. Ela não precisa da coisa em si, mas a conexão é essencial! Então também podemos argumentar que quanto mais frequente o comportamento de pedir coisas desta forma, pior a conexão e se se adoptar estratégias de ignorar, parece-me que se está a agir com... ignorância. 

A comunicação
Como é que tu te sentes quando alguém te ignora? É mesmo isso que queres fazer o teu filho sentir? 

Imagina  que tens uma emoção forte que gostavas de comunicar ao teu parceiro, mas não estás a conseguir fazê-lo de uma forma muito direta. Em vez disso, começas a chateá-lo por outras coisas, que parecem banais (já aconteceu, verdade?). E imagina então que a reação do teu marido é desviar o olhar e recorrer ao silêncio.

E depois quando fazes algo que ele gosta, ele bate palmas e diz que te portaste muito bem… 

Como é que seria a vossa relação? Em que valores se baseia uma relação dessas? Quais são as verdadeiras intenções?

Às vezes pode ser desafiante entender o comportamento, principalmente quando não se tem o habito de procurar entendê-lo. Se o meu filho pedisse bolachas sempre aos gritos, e eu não conseguia perceber bem porquê, teria o cuidado de manter um bom contacto cada vez que a situação ocorresse, focava-me em ter uma boa conexão com ele. Vai aqui um exemplo sem grande teoria e pedagogia por trás de como poderia ser. 

Chegava a ao lado dele, olhava-o nos olhos..:

(Com uma criança mais ou menos a partir dos 4 anos)
”Filho, reparei que ultimamente pedes sempre bolachas aos gritos. Pareces-me tão chateado…”
”Não, só quero bolachas, dá me as bolachas!”
”As vezes quando me sinto stressada acho que também digo coisas assim aos gritos…”
”Bolachas!!” 
”Hmmm, sabes, fico triste quando me pedes assim, sinto-me como se fosse pouco importante para ti e sentia-me muito melhor se me pedisses de uma forma simpática. Assim fico mesmo sem vontade de colaborar contigo.” 
”Uma bolacha, por favor.”
”Ok, aqui está. Depois gostava de falar mais um pouco contigo sobre isso, quando for possível. Posso-te dar um abraço?”

(Com uma criança mais pequena)
”Filho, estou a ouvir que queres uma bolacha e não gosto nada quando pedes a gritar. Anda aqui, queres um abraço? Que outras formas achas que há para pedir?” 

muitas formas, o mais importante, para mim, é que a forma seja autêntica e que se utilize uma linguagem pessoal aberta. 

O texto em cima diz, ”É possível que, de forma transitória, o comportamento desadequado aumente de “intensidade”.” A questão aqui é que, a criança sabe perfeitamente como se pede a bolacha de uma forma educada. E se a situação ocorrer frequentemente, e ainda por cima se intensifica após o ”tratamento”, então pode-se ter a certeza que não tem a ver só com a bolacha em si. Ou seja, é mesmo necessário fazer uma reflexão mais profunda. 

Em relação ao conselho ”recorra ao elogio logo que o comportamento esperado ocorra”, diria antes, ”em vez do elogio, reconhece a criança e diz o que sentes!” Pode-se basicamente esquecer o elogio! (Podes ler mais sobre elogios e reconhecimento por exemplo aqui e aqui)

”Ah, que bom ouvir quando pedes as bolachas de uma forma tão simpática! Sinto que estás a apreciar a minha ajuda!” 

O amor
Todos nós queremos ser amados e reconhecidos. Queremos sentir conexão e ligação. Se a única forma de conseguirmos sentir amor e conexão é através do ”bom” comportamento, então mais cedo ou mais tarde a estratégia proposta no artigo vai funcionar. E é aliciante utilizar estratégias que ”funcionam”. A questão que fica é apenas: à custa de que? 

Quando se segue este tipo de estratégias está-se a agir a partir de um sítio sem amor, e quando adicionamos os elogios, de um sítio de amor condicional (mesmo que amemos os nosso filhos incondicionalmente, também o nosso comportamento é o que fala mais alto, não basta sentir o amor incondicional). É importante lembrar que este tipo de teorias comportamentais foram desenvolvidas a partir de experiências com cães pelo Pavlov no início do século 20. Se trocarmos criança por cão no artigo se calhar fazia mais sentido? 

Estás-te a portar mal. Ignoro-te.
Portas-te bem. Premeio-te. 

É assim que te queres relacionar com o teu filho? Será que seria preferível ter uma relação mais profunda e respeitadora do que isso? 

momentos em que o comportamento do teu filho te está a deixar maluco/a, não há?
Se imaginares que o que ele está a fazer nesses momentos é tentar assumir responsabilidade por algo que está acontecer dentro dele - o que acontece em ti?
Se olhares para o comportamento como uma solução que o inconsciente da criança criou como solução para o verdadeiro problema - qual será a tua abordagem?

Quando se escolhe ignorar um comportamento de uma forma tão profunda, não só se está a ignorar o desenvolvimento de uma saudável auto-estima, como também se está a ferir a auto-estima e a relação com a criança. Também não se estão a criar condições para o desenvolvimento da empatia e da inteligência emocional. 

Se uma boa relação (autêntica, aberta, respeitadora etc.), auto-estima saudável e forte, empatia e inteligência emocional forem coisas importantes para ti, então acredito que este tipo de estratégias são mesmo para... ignorar.

Para acabar
Garanto que, se o teu filho atira brinquedos, se choraminga, se grita ao pedir bolachas, e se faz queixinhas, com frequência, ele tem as suas razões. E as respostas encontram-se na sua vida emocional e nos modelos que ele tem à sua volta. Se perceberes quais as necessidades dele é possível ajudar a preencher essas necessidades de outras formas. Se perceberes se o teu filho está a modelar alguém então podes mudar esse exemplo. 

E consequentemente não vai ser necessário extinguir comportamentos nenhuns porque os comportamentos se vão extinguir por si só, já que deixam de servir o seu verdadeiro propósito.

Deixo-te com uma frase da Stacey Morgenstern:

“Todo o ato é o ato de amor, ou um pedido de amor."

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Como sei que estou a fazer a coisa certa?

© MamaMia
Recebo diariamente perguntas sobre diferentes coisas relacionadas com educação e parentalidade. Sinto-me muito grata por haver tantas pessoas que escolhem partilhar partes tão importantes da sua vida comigo. Normalmente, respondo às perguntas, com várias perguntas. E hoje gostava de partilhar contigo algumas das perguntas que normalmente faço.

Muitas mães, e alguns pais, contactam-me com dúvidas relacionadas com o certo e o errado. Questionam se estão a fazer a coisa certa ou errada, questionam-se há uma forma certa de educar e agir em certas situações. 

Quando tens dúvidas em relação à forma como estás a agir/tens agido, ou se tens dúvidas em relação a um conselho que alguém (a tua mãe, o pediatra, o terapeuta, o psicólogo…) te deu, se tens dúvidas em relação a alguma dica que eu dei, então convido-te a fazeres-te a ti mesm@ algumas perguntas. As perguntas não têm de ser feitas por uma determinada ordem. Nem têm que ser todas feitas. Muitas vezes basta responder a uma delas para fazer uma grande reflexão.

1. Utilizaria a mesma estratégia se o problema fosse com um adulto?
Se quiseres praticar parentalidade consciente é importante perceberes, e integrares, que todas as pessoas têm o mesmo valor. Todas as necessidades, todos os desejos, todos os pensamentos e todas as opiniões que o teu filho tem, têm o mesmo valor que as necessidades, todos os desejos, todos os pensamentos e todas as opiniões que tu tens. Isso não quer dizer que deves fazer sempre o que o teu filho quer, só quer dizer que o valor é o mesmo. A ideia aqui também é que se não irias fazer o que estás a fazer se a pessoa à tua frente fosse uma pessoa adulta, deves questionar com que base que estás a agir. Estás a agir partindo do principio que a pessoa à tua frente tem o mesmo valor que tu? Dizias o que dizes, se fosse um adulto? Davas uma palmada? Punhas de castigo? etc. Se a resposta é não, convido-te a pensares numa alternativa. Porque existem sempre alternativas.

2. Como é que eu me sentiria se alguém fizesse o mesmo comigo? 
A ideia por trás é a mesma que na pergunta em cima- a ideia do igual valor. Se a tua resposta é que te sentirias ”mal” ou algo do género, então, convido-te a pensares numa alternativa. Porque existem sempre alternativas.

3. A estratégia está alinhada com os meus valores e com as minhas intenções? 
Se ainda não te sentaste para pensar bem sobre quais os teus valores e quais as tuas intenções como mãe/pai, convido-te a fazê-lo agora. Isso vai-te servir de guia para sempre. Só podes saber se uma coisa é realmente certa ou errada para ti quando sabes quais são as tuas intenções em relação à tua parentalidade. Se tiveres os teus valores e as tuas intenções bem definidos, é fácil avaliar. O que estás a fazer, ou o que estás a ponderar fazer, está alinhado? Se a resposta for não, convido-te a pensares numa alternativa. Porque existem sempre alternativas.

4. De que forma é que a estratégia está a contribuir para o meu filho poder adquirir as competências e qualidades que eu gostava que ele tivesse? 
Quando sabes quais as tuas intenções e os teus valores como mãe/pai, vais poder também pensar sobre quais as competências e qualidades que gostavas que o teu filho tivesse. Se queres educar para a empatia, respeito, responsabilidade, compaixão então o que tu fazes tem de contribuir para isso mesmo. Quando utilizas uma estratégia reflete bem sobre quais as competências e qualidades que ela promove. Se queres educar para a empatia e respeito, será que utilizar castigos é uma boa estratégia? etc. 
Se ao fazeres a tua reflexão chegas a conclusão que a estratégia não contribui para as competências e qualidades que gostavas que o teu filho tivesse convido-te a pensares numa alternativa. Porque existem sempre alternativas.

5. Qual é a verdadeira aprendizagem do meu filho?
Esta pergunta está muito ligada à pergunta anterior. Muitas estratégias que utilizamos podem ter um objetivo especifico, e contêm ideias sobre o que é que a criança deveria aprender com ela. A questão é que, se investirmos algum tempo a aprender sobre desenvolvimento infantil e cerebral, sabemos que as aprendizagens que gostávamos que a criança tivesse, podem não ser as que ela realmente está a fazer. Mas às vezes também basta fazer uma reflexão um pouco mais profunda. Por exemplo, se pões o teu filho de castigo para aprender a não fazer a mesma ”asneira” novamente ele aprende, por exemplo, que as necessidades dele não têm o mesmo valor que as tuas, aprende que só tem valor quando se comporta de uma certa forma, pode aprender que mentir é melhor do que falar a verdade, aprende que nem todas as necessidades e emoções são aceites, aprende que tu nem sempre (ou nunca) te preocupas com os seus estados emocionais profundos e as suas necessidades e que o comportamento em si é mais importante etc. Se utilizas palmadas o teu filho vai por exemplo aprender que violência em algumas situações é adequada. Se gritas quando o teu filho não faz o que tu queres o teu filho vai aprender que pode ser necessário gritar para conseguirmos o que queremos etc. E se utilizares a estratégia de ignorar o teu filho quando ele faz uma birra, o que é que ele aprende?
Se ao refletires sobre as aprendizagens chegas à conclusão que não são bem as que gostavas que o teu filho tivesse então convido-te a pensares numa alternativa. Porque existem sempre alternativas! 


Então quais são as alternativas que tenho, talvez perguntas tu?! São tantas… Procura aqui no blog, por exemplo aqui ou aqui. Segue também os posts no facebook, ou porque não participar numa palestra ou curso de Parentalidade Consciente?! 


O próximo evento de Parentalidade Consciente é uma palestra sobre auto-estima. Podes saber mais aqui.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

21 DIAS DE MINDFULNESS PARA MÃES


Se tem alguma curiosidade sobre Mindfulness ou se quer explorar mais a sua prática, se sente que necessita de mais paz e harmonia na sua vida, se procura uma pequena paragem, se sente que a vida agora está a ser um pouco demais, se tem alguma curiosidade sobre espiritualidade feminina, se sente que não é bem a mãe, a companheira, a pessoa que gostava de ser (e que sabe que pode ser!) neste momento ou se tem apenas alguma vontade de fazer algo que não sabe bem o que é, então é muito provável que este e-curso seja para si! :)
Durante 21 dias convidamos mulheres, mães, para se juntarem à Mikaela Ovén, coach parental LIFE Training, numa prática diária de Mindfulness especialmente dedicada a mães! Vamos fazer uma exploração interior através de práticas (de meditação e outras), textos, reflexões. 
Os ensinamentos deste curso serão enviados por e-mail diariamente, e pode participar em qualquer sítio, a qualquer hora e ao seu ritmo. O único requisito que este e-curso tem é que tenha compreensão relativamente boa de inglês, uma vez que haverá material partilhado nesta língua, e que esteja comprometida consigo mesma. 
O foco durante o curso será a vida interior da mãe, com o Mindfulness como a principal "ferramenta". Ou seja não vamos falar em como educar os nossos filhos, como resolver situações desafiantes etc. (Para isso existe o e-curso de Parentalidade Consciente). 
Este é um e-curso que a convida a fazer uma auto-exploração, por dentro. Vai poder fazer uma exploração profunda, se é isso que procuras, quer e se tiver coragem… Ou se só apetece receber alguma inspiração... é isso que vai encontrar! 
As palavras-chave deste curso são inspiração, reflexão e exploração.
Vai ser igualmente criado um grupo fechado no facebook onde poderão participar apenas as mulheres inscritas neste curso. Será um espaço sagrado, gerido pelos próprios membros do grupo, onde todo o tipo de partilhas, simples e complexas, superficiais e íntimas são permitidas. 

INSCRIÇÕES AQUI.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

5 DICAS PARA PREVENIR BIRRAS

© MamaMia
Ele está mesmo na fase das birras! Ouço esta frase, e outras parecidas, tantas vezes. Parece que muita gente acha que existe uma fase, obrigatória, pela qual a criança tem de passar. Que é uma fase em que a criança contraria tudo, que testa os limites e que desafia. E que nessa fase é importante definir bem os limites, castigar se for preciso, e lembrar-se de que há sempre ”a palmada na hora certa”. Quem me conhece sabe que não estou nada de acordo. :)
O terapeuta familiar Jesper Juul costuma dizer que quando a criança entrar na famosa ”idade das birras” que como pais deveríamos relaxar. Pegar no jornal, sentar e dizer… ”quando precisas de ajuda, chama-me”
Porque é que o Jesper Juul diz uma coisa dessas? A questão é que todo o comportamento existe para satisfazer algum tipo de necessidade. E uma criança que faz birras, contraria, desafia e ”testa os limites” normalmente é uma criança que está a procura da sua independência. Uma criança nessa idade que faz birras é uma criança que está a procurar ganhar mais influência sobre a sua vida. Ela quer assumir responsabilidade pela sua própria vida, pelas suas necessidades e vontades. Quer aprender a fazer coisas sozinha. Quer ser mais independente. Ela quer sentir-se capaz e competente. 
Na psicologia de desenvolvimento costuma-se dizer que isto acontece 3 vezes na vida da criança. Por volta dos 2-3 anos, aos 6 anos e na adolescência. E quando acontece é muito importante nós pais estarmos preparados para dar o apoio necessário à criança. Quanto mais conseguirmos apoiar a necessidade de ser independente, mais independente a criança se tornará no futuro. Faz sentido?
O Jesper Juul também diz: ”Não são as crianças que fazem birras, são os pais! As crianças tornam-se independentes e os pais fazem birras”.
O que podemos fazer então para guiar uma criança que está a contrariar e desafiar, que tem uma opinião própria muito forte, que fica zangada e triste quando não consegue o que quer? 
Estratégias e métodos regularmente sugeridos envolvem muitas vezes distrair a atenção, ignorar a birra, colocar a criança de castigo (para pensar um pouco), pegar na criança com firmeza e dizer ”Não!” com uma voz segura, dar a tal ”palmada na hora certa”… 
Quando praticamos Parentalidade Consciente sabemos que ameaças, palmadas e castigos não servem se queremos apoiar a criança a caminho da independência. Sabemos que um cérebro pequeno não consegue ”pensar no que fez” num estado de birra. Sabemos que para a criança desenvolver empatia, a auto-estima, o respeito pelo outro, precisamos de a ajudar a preencher a necessidade que está por trás do comportamento. E quando temos esse foco, encontramos soluções bem diferentes. 
Como estas birras normalmente são uma consequência da necessidade da criança de se tornar mais independente e de ela obter significância, de se sentir capaz e competente, então é nisso que me vou focar. 
Como posso ajudar o meu filho a sentir mais independente, capaz e competente? Se eu conseguir ajudar o meu filho a satisfazer as necessidades de formas mais saudáveis, então ela não tem de fazer birras para as procurar satisfazer.
Aqui vão algumas sugestões de coisas que podemos fazer para prevenir birras (e lembra-te que claro que deves adaptar as soluções à idade da criança):
Deixa a criança decidir: esta é bem difícil para muitos de nós. Mas tão, tão importante. A grande maioria dos pais assumem decisões que a criança pode tomar sozinha. Deixa a criança decidir o que vestir, como pentear o cabelo, se toma banho antes ou depois do jantar, se faz os trabalhos de casa logo ao chegar à casa ou se espera um pouco, com quem brincar, etc. Se tens dificuldade com estas coisas então pergunta-te bem porquê e explora as tuas respostas enquanto experimentas dar mais liberdade ao teu filho.
Pergunta a opinião da criança: A minha filha (10 anos) adora quando pergunto o que ela acha que eu devo vestir. Também gosta de ter influência nas decisões que envolvem a família. Pergunta mais vezes a opinião do teu filho. ”Onde achas que devemos ir de férias? O que vamos fazer par a o jantar? Qual o vestido que achas que devo comprar? Onde achas que devemos ir primeiro?”
Dá responsabilidade à criança: Noutro dia íamos receber muitas pessoas em nossa casa. A sala estava bastante desarrumada e eu estava sozinha com os meus três filhos. Comentei que achava que a sala estava bastante desarrumada. A minha filha respondeu ”Se calhar era melhor arrumarmos um pouco?” e olhou para os irmãos (6 e 3 anos). ”Boa ideia” respondi ”então isso é a vossa responsabilidade enquanto eu preparo a comida”. Passado meia hora, não tinham arrumado só a sala, mas também os quartos. Será que se sentiram capazes e competentes? Que tal perguntares ao teu filho ”Será que queres assumir responsabilidade por alguma coisa aqui em casa?” 
Quando fica bem claro para a criança que ela tem a responsabilidade por alguma coisa, o mais provável é que ela assume mesmo essa responsabilidade. Por exemplo a arrumação do seu próprio quarto, os trabalhos de casa, pôr a roupa a lavar etc. Muitas vezes o que custa mais é nós pais termos paciência e conseguirmos dar à criança o espaço necessário paz ela sentir que a responsabilidade é mesmo, só, dela. E as sensações de ser independente, capaz, competente e significativa crescem. 
Ensina coisas novas: Noutro dia perguntei ao meu filho do meio se ele queria aprender a apertar os laços dos sapatos e neste momento andamos nesse projeto. Não precisam de ser coisas avançadas. Aliás, é perfeito começar por coisas simples do dia-a-dia. Já perguntaste ao teu filho ”o que queres aprender a fazer aqui em casa?” Preparar o próprio pequeno almoço (hoje de manhã o meu mais pequeno de 3 anos fez a papa de aveia), colocar manteiga no pão, por leite no copo, enviar um sms, ligar a máquina de louça, ligar o dvd, etc. 
Mostra que tens confiança na criança em tarefas importantes: ”Atendes por favor o telefone que não posso falar quando estou a conduzir?” ”Podes ficar aqui um pouco enquanto o teu irmão toma banho para eu pôr o arroz a cozer?” ”Vais buscar o leite e eu vou buscar o pão?” ”Pagas a conta?” 
Certamente consegues pensar em mais coisas que podes fazer. Tu é que conheces melhor o teu filho. Lembra-te de perguntar: 
Como posso ajudar a satisfazer a necessidade de independência? Como posso ajudar o meu filho a sentir-se capaz e competente?” 
Lembra-te também que vai haver birras na mesma de vez em quando. E o que faço nestes casos? A minha recomendação: Se queres praticar Parentalidade Consciente então foca-te em manter uma boa relação e não em corrigir o comportamento. Encontra dentro de ti muita paciência e muito amor incondicional e lembra-te que numa relação em que nos sentimos bem, temos a tendência de nos portar bem. :) 


quinta-feira, 3 de abril de 2014

Intenções e Valores

© MamaMia
Qual a tua intenção como mãe/pai? Quais os teus valores? O que é que queres viver? Já pensaste mesmo a sério nisso?  

Os meus valores já tenho bem definidos desde que fiz a minha formação com a Family Lab (não antes...). Igual valor, autenticidade, integridade e responsabilidade estão sempre comigo. Hoje não vou entrar em mais pormenor em relação aos valores porque quero-me focar em intenções.

Podemos olhar para as nossas intenções em dois níveis. Posso ter intenções em relação a mim como mãe/pai e posso ter intenções em relação ao meu filho e o que lhe quero transmitir. Há um senão em relação às intenções relacionadas com o meu filho... muitas vezes essas intenções transformam-se em expectativas. E expectativas são grandes inimigos de qualquer relação. Para evitar que essas intenções se transformem em expectativas, o mais fácil é definir que a minha intenção é passar certos valores ao meu filho e focar o resto das intenções em mim.


Acho que definirmos as nossas intenções é uma coisa que deveríamos fazer antes de ter filhos. Nunca conheci ninguém que o tivesse feito desta forma, nem antes, nem depois... Uma vez escrevi o meu manifesto de mãe (bastante depois de ter tido filhos...), o que foi um primeiro passo no caminho das intenções. Depois de ter escrito esse manifesto, e após ter lido Everyday Blessings: The Inner Work Of Mindful Parenting de Jon and Mayla Kabat-Zinn, um dos meus livros preferidos sobre parentalidade, decidi realmente escrever as minhas intenções. Nunca as cheguei a publicar aqui, mas já as partilhei em palestras, cursos e e-cursos. 

Então aqui vão as intenções (muito inspiradas no livro em cima) da Mama Mia.


1ª Intenção: A minha intenção é entregar-me totalmente a uma parentalidade consciente e ter sempre os meus valores base comigo.

2ª Intenção: Vou olhar para a parentalidade como uma oportunidade única de me ficar a conhecer cada vez melhor. Para assim poder partilhar o melhor de mim com os meus filhos (e em todas as minhas relações).

3ª Intenção: Vou praticar Mindfulness e vou procurar estar conscientemente presente em todos os momentos (principalmente com os meus filhos).

4ª Intenção: Vou-me sempre esforçar para VER os meus filhos. Vou procurar deixar todas as minhas expectativas e todos os meus medos de lado. Vou procurar aceitar os meus filhos exatamente como são em todos os momentos. Isso também quer dizer que vou trabalhar para me ver a mim, e para me aceitar a mim, para assim conseguir ajudar os meus filhos a fazerem o mesmo.


5ª Intenção: Vou-me esforçar para ver sempre os pontos de vista dos meus filhos e procurar perceber quais as suas necessidades.

6ª Intenção: Vou aproveitar todos os momentos da minha vida com os meus filhos. Os bons e os menos bons, exatamente como estão.



7ª Intenção: Vou guardar estas intenções no meu coração junto com os valores que quero praticar e tenho um compromisso comigo mesma de as ter presentes da melhor forma que consigo, todos os dias.   



E quais são as tuas?

domingo, 2 de março de 2014

7 formas de te conectares mais com o teu filho (ou qualquer outra criança)

© MamaMia
Uma das coisas mais importantes, se não “a” coisa mais importante, na relação que temos com uma criança é o nível de conexão: é o nível de conexão que a criança sente connosco que vai determinar a forma como ela se comporta connosco! 

Muitas pessoas passam pouco tempo com os filhos durante a semana, entre escolas, trabalho e atividades – o que origina a a dica habitual de pelo 10-15 minutos de brincadeira e conversa por dia, sem outras tarefas, o chamado ”tempo especial” ou ”tempo de conexão”. Gostava de explorar em mais pormenor o que podemos realmente fazer durante esses momentos, mas também em todos os outros que temos com os nossos filhos e em que convivemos com crianças. 

Aqui tens 7 formas de te conectares mais com o teu filho (ou outra criança) - ao mesmo tempo vão ajudar a fortalecer a auto-estima


1. Convida para conexão e tempo em conjunto

Noto que muitos pais que decidem que vão adotar ”o tempo especial” diário, aqueles 10 minutos sem outras tarefas, utilizam uma linguagem que nem sempre é muito convidativa para a criança. Podem por exemplo dizer o seguinte:

Posso brincar aos Legos contigo agora se quiseres. 

Se quiseres fazer os trabalhos manuais comigo tem de ser agora, depois tenho muitas outras coisas para fazer.


Imagina por uns momentos que o teu companheiro/a tua companheira dissesse:

Posso fazer sexo contigo agora se quiseres, mas tem de ser agora, porque tenho muitas outras coisas para fazer depois. 


Será que há outra forma de dizer as coisas? Uma forma que convida para um momento em conjunto, um momento desejado por ambas as partes? Será que há diferença se dissermos:

Gostava muito de brincar contigo aos Legos agora.

Estou com vontade de fazer trabalhos manuais, queres-te juntar a mim?

(ou ao parceiro/a: Estou mesmo com muita vontade de fazer amor contigo. Queres ir lá acima?


Para quem sente que não consegue encaixar estes momentos especiais e únicos, se calhar  experimentar fazer outro tipo de convites pode ser possível (e muito bom!):

Vou começar a fazer o jantar agora. Queres vir comigo à cozinha e podemos aproveitar para falar só os dois, e se quiseres podes ajudar a cozinhar também. 

Vou limpar a casa de banho agora, adorava que viesses comigo, fazes-me companhia e assim podíamos aproveitar e falar sobre como queres organizar a tua festa de anos. 


2. Interessa-te pela criança

Interessa-te pela criança e não tanto pelas coisas que ela faz e tem. Quando demonstramos real interesse pela criança, pela pessoa que ela é, pela vida interior dela, tiramos completamente o foco do comportamento e dos atributos físicos. Não julgamos e não avaliamos. Reconhecemos e demonstramos interesse. Avaliações e julgamentos não promovem um contacto profundo, são obstáculos à comunicação e muitas vezes a conversa não se desenvolve e não ficamos a saber nada sobre a vida interior da criança. Vou exemplificar a diferença com um exemplo pessoal que aconteceu ontem com o meu filho (6 anos) quando o fui buscar ao infantário.


Mamã, quero-te mostrar um desenho que eu fiz de um barco de vikings! 

Sim?! Vai lá buscar então!

Olha, mamã!



Nesta fase tenho duas escolhas…. uma que abre a conexão e suporta a auto-estima. Outra que fecha e pode eventualmente ajudar com a auto-confiança. Se utilizasse a segunda forma (que é a que mais ouço) seria algo como:


Que lindo, filho! Estás a desenhar tão bem!


Mas a conversa que se seguiu foi mais ou menos assim:

Um barco de vikings! É enorme, e tem um, dois, três, quatro vikings. Estes vikings parecem muito contentes!

Pois estão!

Onde vão?

Vão a Australia! 

Ui, é uma viagem muito longa então?!

Pois é, têm de levar muita coisas no barco para sobreviverem! 

Sim… E tu, se tivesses um barco desses verdadeiro onde ias?

Não sei…. se calhar também ia a Australia! Pode-se ir a muitos sítios!

Pois é? Posso ir contigo?!

Sim, vamos só nos os dois! 


O interesse, a abertura, a curiosidade são coisas que criam contacto. São coisas que nos permitem ficar a conhecer a vida interior do nosso filho. A avaliação só serve se há uma expectativa de sermos avaliados. E não acredito que a criança lá no fundo queira ser avaliada, acredito mais que queira ser reconhecida, se queira dar a conhecer e conectar! 


3. Reconhece as emoções da criança

Procura reconhecer as emoções da criança em vez de julgá-las. Partilha as emoções da criança em vez de avaliá-las. Elogios são uma forma de avaliar. Quando estou constantemente a avaliar arrisco-me a ter um filho que fica dependente de elogios para o seu bem estar. E também é bom lembrar-me que o elogio tem sempre um oposto…  

Em vez avaliar e elogiar posso partilhar as emoções nos momentos em que muitas vezes se dão elogios. Por exemplo:

Wow! Que bonito! Sabes dançar mesmo muito bem! Acho que foste a melhor! 

posso trocar por:

Wow! Estavas mesmo concentrada a dançar. Como é que te sentes quando danças assim? 


Em relação às emoções que costumamos rotular como negativas é importante não julgar o que a criança está a sentir. As emoções da criança são tão fortes como as nossas. Se calhar não ficamos a chorar compulsivamente porque a nossa roupa preferida está para lavar. Mas podemos ficar muito, muito tristes por outras razões. A única diferença é que as razões são diferentes. As emoções são as mesmas. 

Outra tendência que temos é de tentar salvar a criança das emoções fortes e negativas – o que também não é necessário. 

Quero as minhas calças verdes!

Tu gostas mesmo daquelas calças!

São as minhas preferidas.

Pois, sabes, lavei-as ontem a noite e ainda estão molhadas. 

Mas eu queeeero!

Eu sei, gostavas mesmo de as vestir hoje outra vez, não era? 

Siiim! Quero as minhas calças veeeeeeerdes!!!!  Elas não estavam nada sujas! 


Olhei para elas ontem a noite e pareceram-me sujas. Agora estou a perceber como deves gostar mesmo muito daquelas calças. Estás muito chateado?

Sim, quero as verdes….. 

Se calhar para a próxima pergunto-te antes de as pôr para lavar, o que te parece?

Sim…. mas quero-as agora….

Pois, porque as verdes são as tuas calças preferidas. E quais são as calças que estão em segundo lugar? 


4. Fala das tuas emoções

Deixa a criança saber como ela te afeta. Tanto positivamente como em situações em que não te sentes bem. 

Por exemplo, na situação em cima em relação à dança podíamos adicionar:

Adoro ver-te a dançar! Lembro-me de quando eu era pequena e andava no ballet. Adorava andar em bicos de pés. 

Ou numa situação em que as emoções são mais dolorosas:

Quando estás a brincar de uma forma tão violenta com o teu irmão, assusto-me. Fico com medo que o magoes a sério. O que pensas sobre isso? 


Nestas situações estamos com o coração aberto a falar do nosso interior. A criança tem a oportunidade de aprender sobre nós e sobre as nossas emoções. Ela vai ficar a saber de que forma ela contribui para o nosso bem estar e como, às vezes, o que ela faz nos pode fazer sentir menos bem. No fundo, agir assim ajuda no desenvolvimento da empatia na criança. Além disso, ela vai ficar a saber que a vida contém um leque de estados emocionais, e que, quando somos inteiros, podemos mostrar essas emoções todas. Ou seja, ela vai ter mais facilidade em mostrar também o que se passa dentro dela.


5. Fala de ti

Muitos pais dizem que as crianças não lhes contam nada sobre o seu dia. Todas as crianças são diferentes mas acredito que acontecem algumas coisas nestas interações que impedem comunicação e conexão. Tu gostavas de falar de ti se a pessoa com quem está a falar não diz nada sobre ela própria? Se queres conectar mais com o teu filho então fala primeiro sobre ti, e o teu dia! 

Sabes, hoje tive um dia mesmo bom! Começou um pouco mal porque estava mesmo cansada de manhã
e tivemos aquela discussão ao pequeno almoço que me fez um pouco triste. Mas depois percebi que eu é que estava a exagerar e depois de termos dado aquele abraço à porta da tua escola senti-me mesmo bem. Fui para o escritório e a Ana e o Miguel já tinham chegado. Fiquei muito contente porque são os colegas que gosto mais e normalmente chegam mais tarde que eu. Aproveitamos para tomar um café e falar de umas coisas muito importantes que vamos fazer nos próximos dias. Estava um pouco nervosa em relação a essas coisas mas depois de ter falado com eles senti-me mais confiante e acho que vai correr bem!



6. Sê congruente e autêntico

Procura ser sempre congruente e autêntico e não dês tanta importância à consistência e de ter sempre as mesmas regras. Se quiseres conectar com uma criança tens uma hipótese muito maior de fazer isso quando dizes e fazes o que realmente pensas, sentes e queres. Quando fazes aquilo em que realmente acreditas, as crianças conseguem perceber a diferença. São hiper-sensíveis à nossa linguagem não-verbal e para-verbal. E quando sentem que há incongruência ficam inseguras (e uma criança insegura muitas vezes porta-se ”mal”). 

Se um dia sentires que era mesmo bom comer à frente de televisão mas não o fazes porque achas que as crianças se vão ”habituar” e não se podes abrir exceções à certas regras porque faz mal, então estás a ser incongruente. É muito provável que numa situação de incongruência as crianças questionem ainda mais a decisão e a vontade do adulto. 

Sabem, meninos, hoje apetece-me mesmo comer à frente de televisão. O que vos parece?

Se lês sempre uma história a noite ao teu filho, mas há dias em que não tens mesmo, mesmo energia para o fazer e preferias só falar um pouco com ele antes de ele adormecer… então convido-te a sugerir isso mesmo. 

Filho, hoje sinto-me mesmo exausta e não estou com energia para ler uma história. Que tal eu me deitar aí ao teu lado e ficamos a conversar um pouco?


Conectamos com pessoas e não com regras, rotinas e normas (embora também se possa argumentar a favor dessas coisas… mas não quando falamos em criar relações e conexões). Conectamos muito mais facilmente e rapidamente com pessoas congruentes do que com pessoas incongruentes, e para sermos congruentes as vezes é preciso ser inconsistente. 


7. Faz perguntas novas

Muitos de nós pais corremos o programa da entrevista ou o interrogatório quando vamos buscar os nossos filhos à escola. 

Correu bem o teu dia?

O que comeste?

Com quem brincaste?


E isso repete-se todos os dias… Fica completamente automático e não nos ajuda minimamente a conectar. Que tal experimentar umas perguntas completamente diferentes. Perguntas um pouco surpreendentes. Perguntas que fazem pensar. Perguntas que fazem rir. Perguntas com verdadeira curiosidade. 

Se pudesses fazer uma viagem a um sítio à tua escolha agora mesmo, onde ias?

Hoje de manhã quando ficaste zangado comigo o que gostavas que eu tivesse feito?

tantas pessoas que dizem que as crianças hoje em dia não respeitam os adultos, o que achas disso?


Para conectarmos com as crianças temos que mostrar que somos pessoas, tal como elas. Temos de nos despir do papel de mãe/pai (ou de professor/educadora…) e mostrar quem somos. E temos de estar mentalmente presentes! Só quando fazemos isso podemos continuar para o passo seguinte que é mostrar um interesse genuíno pela criança, pela pessoa, que temos a nossa frente. 


Quanto mais conexão, melhor a relação.