Alguma vez puseste o teu filho de “castigo”?
Costumo dizer que “castigo” deve ser a palavra mais feia que existe na língua portuguesa…
Quando
a minha filha mais velha tinha a volta de 3 anos houve um ou outro
momento em que ela se “portou MUITO MAL.”… (no meu mapa mundo naquela
altura). Foram momentos em que eu como mãe estava completamente sem
recursos e escolhi experimentar o “método” de time-out (basicamente
a mesma coisa que castigo), e pus a minha filha no seu quarto, sozinha,
com a ordem de só sair quando ela se ia “portar bem”…. Só ao escrever
estas linhas sinto-me cheia de remorso… e a mesmo tempo, muito grata por
ter aprendido, através dos meus filhos, que este “método”, pode
funcionar ao curto prazo, mas que no fundo, não resolve absolutamente
nada. Pelo contrário.
Só piora.
Pode-se dizer muita coisa sobre o castigo, aqui vão as minhas reflexões de hoje.
Utilizar
o castigo (sentar numa cadeira, fechar no quarto, ficar num cantinho
etc.) não só desgasta o relacionamento com o nosso filho, como também
danifica o seu desenvolvimento pessoal e a sua auto-estima. O castigo separa o comportamento do momento, e trata unicamente dos sintomas, e nunca a causa!
Quando
te separas da tua criança numa situação de conflito, estás a demonstrar
que a vossa relação não é importante. O teu filho tem comportamentos
“inadequados” principalmente quando ele te necessita mesmo muito, e a
vossa relação é extra importante. A criança precisa de ser ouvida,
precisa de sentir que te estás a preocupar com aquilo que ela sente, e
que queres entender e ajudar. Ela precisa de se sentir segura para
conseguir exprimir a causa da sua reacção.
Mas o castigo funciona!
Com
toda a honestidade, a razão porque o castigo é tão popular é porque até
parece funcionar! Sim, a curto prazo! Quando a criança é posta de
castigo ela para com o comportamento por algum tempo. Claro.
E
quantas crianças conheces que são repetidamente postas de castigo e
continuam a ter um “mau” comportamento? (Será que é altura de mudar de
estratégia!?!......)
Crianças,
principalmente com menos de 6 anos, vivem no momento! São impulsivas e
rapidamente se irão esquecer o porque de terem sido postas de castigo.
Ao utilizar o castigo estamos a desconectar a criança do comportamento
que queremos desincentivar!
Aliás,
os cérebros das crianças novinhas nem sequer estão aptas para entender o
conceito de consequências! E são, biologicamente, incapazes de entender
causa e efeito em relação ao seu comportamento. Ou seja, qualquer
tentativa de disciplina ou castigo não serve para nada, pelo contrário….
Fácil, sim, mas só trata o sintoma!
O castigo é um ótimo exemplo de um método quick-fix
que muitos pais e educadores utilizam porque é rápido e fácil, e
“funciona”. No nosso dia-a-dia super atarefado, com tanta coisa para
fazer e tratar, pode parecer uma boa opção… Só que ao escolher o castigo
estamos a perder uma grande oportunidade de conexão com o nosso filho.
Quando
o pequeno João repetidamente atira a comida para o chão ele está,
provavelmente, a querer comunicar alguma coisa… Em vez do castigo
podemos escolher ouvir o João. Demora mais tempo, certamente, mas
garanto que vale a pena!
Também
te posso garantir que existem alturas em que, por momentos, me apetece
fechar os meus três filhos num quarto e fechar a porta a chave… Vezes em
que me sinto completamente sem recursos para lidar com qualquer tipo de
“comportamento exigente”…. (que as vezes pode ser vezes 3… ou 4 se
contarmos também o meu marido!). A forma que encontrei para me
equilibrar nestes momentos é de eu própria fazer o tal time-out. Um minuto, sozinha, com os olhos fechados, respirando profundamente, costuma ser suficiente.
Para
acabar… imagina que estás no teu local de trabalho. O teu chefe acabou
de fazer um novo curso de liderança no qual aprendeu diversos métodos… É
no final do mês e altura de entregar um relatório mensal. Estás
exausto, cansado, com poucos recursos. O teu chefe está o dia todo a
chatear por causa do relatório. Estás completamente sem vontade e não
consegues acabar o relatório a tempo, são já 8 da noite… e quando o
chefe se apercebe grita: “Agora voltas para o teu gabinete para pensares melhor no teu comportamento e só podes sair quando tiveres acabado o relatório!”…..
Lembra te que crianças necessitam mais de atenção afetuosa quando a parecem merecer menos….
(Se quiseres ler mais sobre este tema encontras muito na Internet, principalmente em inglês, aqui http://www.awareparenting.com/timeout.htm podes encontrar um artigo bastante interessante com várias referências científicas.)
Como é que se ouve uma criança de 3 anos? Como conseguir perceber o que ela sente ou precisa no momento da birra? Tem algum exemplo em como essa atitude tenha resultado?
ResponderEliminarOlá! Já viu este artigo: http://mamamiaparentalidade.blogspot.pt/2014/04/5-dicas-para-prevenir-birras.html
EliminarOlá Mia,
ResponderEliminardesde há cerca de 4 meses que leio, quando arranjo um tempinho na minha vida de mãe de gémeos (21 meses), o seu blog e tenho aprendido muito com a experiência.
O primeiro post que li foi este sobre os castigos, pois o Pedro (companheiro) era contra e eu como estou 24 horas com os manos achei que servia lindamente para o efeito um tapete lindo de crochet na sala... (nisso não conseguimos chegar a um consenso até ao dia em que li o post)
Logo depois de ler as suas palavras fiquei eu própria sem nenhumas. Inundada de culpa por ter posto 2x os meus filhos de castigo 10 segundos por terem tirado a terra do vaso.
Agora a minha atitude mudou e cá em casa também temos envolvido os bébés nas actividades de casa e eles por iniciativa própria já arrumam o lego e os blocos de madeira quando é hora de dormir e escolhem pela manhã uma de duas peças de roupa que lhes mostro.
Gostava que visse a cara de felicidade de ambos por escolherem a t-shirt que mais gostam :)
Com esta nova atitude sinto que nos ouvem melhor, e aceitam sem grandes alaridos aquilo que pretendemos. As consequências lógicas têm tido muita utilidade :)
A minha vinda aqui é por outro motivo, para além o de retribuir por palavras a ajuda que tem feito na divulgação da sua experiência.
Os meus gémeos de 21 meses agora deram em bater-se com peças de lego, carrinhos, mocas fabricadas por eles um ao outro sem que aquele que é atingido se defenda. Chora, e o outro bate continuamente até que algum adulto se aproxime. Dei por mim a agarrar o braço, a atirar o objecto para longe a olhar fixamente com raiva...tudo porque sindo uma dor enorme por eles se magoarem um ao outro e ficaram negros. Será que nos pode ajudar nesta situação?
Porque acho que mesmo quando consigo parar explicar que não o pode fazer, explicar os motivos, dizer o mano fica triste e que ele se magoa nada disso resultou.
Obrigada por tudo e fico a aguardar uma ajuda :) Muitos parabéns pelo seu trabalho.
Beijinhos dos 4
Obrigada pela mensagem! A melhor estratégia que conheço é deixar as crianças resolver o assunto e quando sentes que necessitas de intervir, segurar no bracinho com cuidado (mas firmeza) e calmamente dizer "Estou a ver que estás muito zangado com o teu irmão. Não te vou deixar bate-lo, que tal tentares dizer o que queres." E lembra-te que nesta idade é normal fazer este tipo de "experiências". Eles sabem que dói, sabem já que não "devem" fazer aquilo, e não são necessárias grandes lições. O que é necessário é mostrar os teus limites, ajudar os teus filhos a fazerem o mesmo, e oferecer alternativas.
EliminarConvido-te também ao meu site www.mindulnesseparentalidade.com que é onde escrevo hoje em dia.
www.mindfulnesseparentalidade.com (é o site certo :) )
EliminarUm grande obrigado dos 4! Futuramente vamos experimentar essa alternativa.
EliminarHoje aconteceu novamente, mas o que me apeteceu mesmo foi abraçá-los ao mesmo tempo, porque nem mesmo o que estava a bater me pareceu bem. Após 1 minuto ele já estava a dar festas na cabeça do irmão e a mimá-lo, indo buscar o seu boneco favorito.
O amor cura muito!
Beijinhos e vamos continuar a seguir-te no site ;) e na quinta vamos aprender mais sobre viver em paz, aceitação e amor ;) Boas energias!