Ultimamente tem-me aparecido muitas vezes a pergunta
“Como se desenvolve a auto-estima num adulto”? E embora isso não tenha
diretamente a ver com as crianças... indiretamente tem! Porque, como costumo
dizer, o melhor presente que podes dar ao teu filho é tratares bem de ti mesmo,
assumires responsabilidade em relação a ti (e às tuas relações).
Em primeiro lugar, deixa-me fazer uma distinção entre
auto-estima e auto-confiança.
Auto-estima tem a ver com o que sou e como me
relaciono com isso. Tendo uma auto-estima saudável relaciono-me bem com tudo
que sei sobre mim, aceito-me a mim mesmo exatamente como sou. A boa auto-estima
funciona como uma espécie de sistema imunitário que nós ajuda a lidar com situações
onde estamos a ser questionados, atacados, em situações de bullying etc. Quanto
melhor a minha auto-estima, mais facilidade tenho de lidar com estas situações.
A auto-estima é que me faz sentir bem em relação à mim mesma.
A auto-confiança está ligada a situações específicas e
a prestações, por exemplo estou auto-confiante a dar formação, a jogar futebol
ou a fazer contas. A auto-confiança pode-me fazer sentir bem em relação a uma situação
específica.
A ligação entre auto-confiança
e auto-estima é pequena. Ter uma boa auto-confiança em várias áreas não melhora
a minha auto-estima. Mas, se eu tiver uma boa auto-estima, ter baixa
auto-confiança em algumas áreas não se torna um problema.
Por exemplo, se eu decidir tornar-me pianista vou
iniciar aulas de piano. Nas aulas de piano descubro que tenho muita dificuldade
em aprender a tocar. Se tiver uma baixa auto-estima, vou lidar mal com essa
descoberta, se tiver uma alta auto-estima vou lidar bem com a mesma descoberta.
Se por outro lado perceber que estou a gostar muito e que tenho jeito e energia
para investir no treino, posso desenvolver auto-confiança em relação ao tocar
piano.
E então o que faço para aumentar e manter a minha
auto-estima?
1. Assumo a responsabilidade por mim! Sou eu, unicamente eu, que sou
responsável por mim. Mais ninguém. Quando sou auto-responsável faço as coisas
por mim e não pelos outros em primeiro lugar. E quando faço pelos outros é uma
escolha minha, ponderada, com qual me sinto bem e não tenho grandes dúvidas.
Entendo e conheço (e procuro conhecer cada vez mais) os meus limites e os meus
valores. Sei dizer que não às pessoas, mesmo às pessoas que mais amo, às
pessoas que me assustam, às pessoas com quais me comparo e às pessoas que quero
impressionar...
2. Trabalho o meu auto-reconhecimento e a minha auto-compaixão! Reconheco tudo
o que tenho de bom e tenho compaixão comigo mesma em relação às coisas menos
boas. Um exercício que se pode fazer é no final do dia é escrever 3 situações
que aconteceram durante o dia. Coisas que fiz menos bem e coisas que fiz bem.
Depois imagino que não fui eu que fiz aquelas coisas, mas outra pessoa que amo
muito. A seguir troco essa pessoa por mim mesmo e procuro sentir o que senti
pela outra pessoa, por mim.
3. Nada de comparações! Muitos de nós comparámo-nos constantemente com outras
pessoas. Em tudo: ela é uma melhor mãe, ele é mais inteligente, ela é muito
mais bonita, ele é mais forte…. A questão é que só nós nos podemos comparar com
nós próprios. E mais ninguém. Quando começo a comparar-me com os outros,
imagino um grande sinal de Stop! e procuro encontrar uma imagem boa de mim na
mesma situação.
4. Sou congruente! Procuro sempre a congruência, quando sou congruente estou
alinhada com os meus valores e os meus limites. Sou auto-responsável, e assumo
responsabilidade por mim. Quando estou incongruente estou a “comer” a minha
auto-estima.
5. Tenho mais auto-compaixão! Quando tenho compaixão comigo mesma consigo aceitar
àquilo que sou, o que é fundamental para a auto-estima. Essa aceitação não quer
dizer que nunca vou mudar nada, não quer dizer que fico passiva. Pelo
contrário, ao aceitar, consigo transformar em algum melhor! Quando conheço e
aceito os meus lados menos bons, consigo também trabalhar para os melhorar.
6. Falo das minhas emoções! Não consigo frisar o suficiente a importância de
exprimirmos as nossas emoções. Principalmente quando se trata de emoções como
culpa e vergonha que são grandes inimigos da auto-estima. É importante lembrar
que não há culpa, há responsabilidade. Eu não tenho culpa de nada mas posso ser
responsável. E quando penso nas minhas emoções também penso sobre como me sinto
em relação àquilo que sinto. Muitas vezes é esse o grande problema. “Tenho
vergonha porque estou apaixonada por uma mulher.” (ou seja sinto amor, mas o
problema é o que sinto em relação à isso).
7. Estou no aqui e agora! Este momento é o único que consigo realmente
influenciar. É neste momento que consigo parar e pensar um pouco sobre aquilo
que sinto, penso e acho… É neste momento que me posso ficar a conhecer melhor.
8. Tomo conta de mim! Faço coisas que gosto. Arranjo tempo para mim. Não sinto
culpa por ter momentos auto-centrados (em que é provável que algumas pessoas me
chamem egoísta). E se sentir culpa, deixo a emoção estar, mas não faço
diferente, a emoção vai acabar por descarregar. Trato do meu corpo tal como da
minha mente. Há tempo na minha agenda também para mim!
9. Faço amor comigo! Pois, estou a falar de masturbação (mesmo! ;)). Masturbação é
uma forma fantástica para me ficar a conhecer melhor. Tem tudo a ver com
responsabilidade, prazer e limites. Tem tudo a ver com auto-conhecimento. E tem
tudo a ver com amor-próprio. Se não souber o que me dá prazer, nunca
o vou ter.
10. Medito! Pelo menos de vez em quando. Desafio-me a ficar sozinha comigo
mesma e o que se está a passar no meu corpo e na minha mente.
Quanto mais gosto de mim, quanto mais vejo as coisas boas e mim, quanto mais aceito as coisas menos boas em mim, quanto mais compaixão tenho por mim... mais vou conseguir sentir o mesmo pelos outros.... Quanto melhor a minha relação comigo, melhores as minhas relações com os outros.
Será que o mundo seria um lugar melhor se tivéssemos todos mais auto-estima?