Como sabes se um estratégia de educação está a funcionar ou não?
Muitas vezes quando falo com pais de parentalidade
consciente e sobre “estratégias” focadas na conexão, respeito, autenticidade,
igualdade…. ouço comentários como “mas
não funciona sempre assim!”, “eles têm de saber quem manda!” “Quanto tento essas
coisas ele faz birras na mesma!” “E peço para ele arrumar o quarto de uma forma
simpática e com empatia mas ele mesmo assim não arruma e acabamos por discutir!”
“Ele só faz o que quero quando lhe bato.” Ou seja, o que os pais me estão a
comunicar é que continua a haver um sintoma que querem “tratar”.
A questão é que, para eu poder avaliar se uma estratégia
está a funcionar ou não, tenho primeiro de ter um objetivo bem definido. Uma
intenção e um objetivo com a minha parentalidade. Só depois de saber isto,
posso saber como avaliar se o que estou a fazer funciona ou não.
Tradicionalmente temos dificuldade em lidar com as crianças
quando demonstram muita emoção, muita luta, quando nos questionam, quando batem,
quando se “portam mal”… Achamos que deveria bastar dizer “Para com isso!” “Isso não se faz!” “Agora tens de fazer o que te digo!”
e as crianças deveriam fazer o que pedimos exatamente no momento em que fazemos
o pedido. Não deveriam reagir, ficar tristes, protestar, desafiar. Não deveria
haver desafios e conflitos. Deveriam simplesmente fazer o que foi pedido.
Basta!
Com esta ideia em mente, cada vez que a criança não faz o
que peço, faz uma birra ou reage de outra forma “não adequada”, interpreto isso
como um sinal que a estratégia que estou a utilizar não está a funcionar. Se
calhar também há pessoas a volta que gostam de reforçar que as estratégias que
estou a utilizar não funcionam porque a criança faz birras e porta-se mal na
mesma.
Sem o teu objetivo não for obediência, mas por exemplo
promover inteligência emocional, desenvolver empatia, criar independência,
capacidade de resolução de problemas, colaboração, boa comunicação, autenticidade,
auto-estima, auto-conhecimento, confiança, respeito… pois então, a presença das
grandes emoções é necessária. As emoções que nos fazem gritar, desafiar, chorar...
E quando estas emoções acontecem, não quer dizer que a nossa estratégia está a
falhar. Esses momentos são as grandes oportunidades de praticarmos as nossas
estratégias para nos aproximarmos do nosso objetivo e as nossas intenções como
pais.
Como em tudo, as crianças não aprendem por que lhes dizemos
uma certa coisa (muita gente diz isto, mas vejo pouca prática ;)). Aprendem sobre
a vida, vendo a vida em ação! E a vida não se aprende de um dia para o outro,
ou de um momento para o outro. Não aprendo como viver a vida porque alguém ralha
um pouco comigo ou me da uma palmada. É um processo, e a criança precisa de
muita prática. Precisa de ver os pais e outros adultos a sua volta a praticarem
os valores propostos várias vezes. Várias vezes. Têm que experimentar, falhar,
errar, desafiar. Porque é assim que aprendem. Aceitamos isso quando a criança
está a aprender a andar ou falar… é a mesma coisa com as emoções e os
comportamentos “adequados”. Tem de haver tempo de prática, e tem de haver
modelos a seguir. Diariamente, momento a momento.
Crianças lutam porque a infância é uma luta! É uma confusão!
Nunca mais na vida temos de aprender tantas coisas novas ao mesmo tempo! E se
tivermos pessoas a nossa volta a fazerem questão de nos apontar que estamos a
fazer coisas mal…. O caminho fica ainda mais desafiante.
Lidar com emoções não é nada fácil. Todos sabemos isso. E
porque achas que continua a ser tão difícil na vida adulta? Eu tenho
praticamente a certeza que é porque para muitos de nós, não houve espaço para
experimentarmos todo um leque de emoções de uma forma “segura” na nossa
infância. Ainda estamos a aprender, só que agora, como adultos, muitas vezes
estamos muito sozinhos nessa aprendizagem.
A parentalidade consciente demora mais tempo, sim. Mas
assim, conseguimos oferecer uma arena segura para as crianças desenvolverem
todas àquelas características valiosas que queremos. Só assim podemos realmente
conectar com o nosso filho e apoiar o seu desenvolvimento. E além disso, temos
como adultos uma segunda oportunidade de entrar na escola das emoções, e desta
vez até sair com o diploma!
E se a estratégia que estamos a utilizar está a funcionar ou
não, isso vamos poder “medir” e sentir na relação que temos com o nosso filho,
no bem-estar dele… e no nosso coração.
Muito útil este texto!
ResponderEliminarObrigada Paulo!
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