segunda-feira, 30 de setembro de 2013

DICAS PARA CONSEQUÊNCIAS LÓGICAS

© MamaMia
Tanto nós adultos como as crianças temos às vezes dificuldade em distinguir o que queremos fazer (a nossa vontade) daquilo que temos/devemos fazer (as necessidades). 

(Na realidade não acredito que haja nada que temos de fazer ou que devemos fazer, mas essa é outra conversa.)

Para ajudar as crianças a distinguirem entre vontade e necessidade podemos utilizar a forma ”Quando-Então/podes”.

”Quando colocares a tua roupa suja no cesto, então eu posso lavá-la”.

”Quando arrumares as coisas da mesa, então podemos ir ao parque”.

”Quando souberes nadar, então podes ir à piscina grande”.



Para utilizar consequências lógicas podes seguir os seguintes passos:

1. Pede ajuda à criança. 
Arranja um tempo para te poderes sentar com a criança, sem interrupções, sem televisor, telemóvel, jogos, trabalhos de casa etc. Tem de ser um tempo cujo objetivo é ter um diálogo autêntico e honesto. Também é importante ser um momento em que emoções como raiva ou frustração não estejam presentes, nem de uma parte nem da outra. Se não tiveres as condições certas, escolhe outro momento. 

A conversa poderia ser assim:

- Inês, eu fico muito stressada com as nossas manhãs e gostava de evitar isso. Parece-me que tens dificuldade em te levantares de manhã. Quando não te levantas e adormeces outra vez, o que achas que deveríamos fazer?

Normalmente as crianças conseguem pensar em boas soluções. Deixa a criança pensar e não ajudes no início. A probabilidade de colaboração aumenta muito quando a criança se sente parte do processo e quando a opinião dela também conta e é respeitada.
2. As consequências devem ser lógicas
Será que as consequências têm uma ligação lógica ao comportamento/a situação? (podes ver aqui a diferença entre consequências lógicas e castigos, onde encaixa a consequência escolhida?)

3. Apresenta escolhas que são viáveis para ti
Se desde o início sentires que não vais consequir deixar a roupa do teu filho espalhada no seu quarto sem a arrumar e lavar, então não apresentes essa alternativa. Se sentires que a hora do conto a noite é muito importante para ti e a vossa relação, então não apresentes como consequência retirar a hora do conto. 
4. Esteja alinhad@ com o que definiram.
Ou seja, não digas: ”Lembras-te que combinamos que eu só lavava a tua roupa se a pussesses na cesta... sabes, a próxima vez não lavo mesmo.” Perdes a tua credibilidade e vai ser cada vez mais desafiante. Por outro lado podes mudar de ideias, se já não te sentires bem com o que foi decidido podes dizer ”Estive a pensar e acho que não faz sentido...” ou ”Estive a pensar e gostava....”. Mudar de ideias não tem mal nenhum! (ou contrário do que muita gente diz! ;) )

5. Sem expectativas
Procura evitar ter a expectativa de que a criança vai seguir o que foi decidido sem testar a validade/seriedade. Quando a criança testa está a aprender sobre si, sobre ti e sobre o mundo.  

6. A segunda oportunidade
Se temos como objetivo o desenvolvimento da responsabilidade temos de deixar as crianças aprenderem com os seus erros. Ou seja, após ter experienciado uma consequência, podemos começar de novo. As emoções e atitudes presentes são amor, compaixão e carinho. Se a criança ”falhar” não precisa de zanga e desilusão. 

Se as coisas estiverem a correr bem, comunica isso à criança, não com elogios, mas com feedback genuíno e pessoal. Conta-lhe sobre aquilo de que estás a gostar, descreve o que sentes e conta porquê! 

Por exemplo:
”Fiquei mesmo contente hoje quando cheguei a casa e vi que tinhas posto a roupa toda para lavar. Gosto quando as coisas estão mais organizadas.”

”Sinto-me me muito mais tranquila quando utilizas o capacete quando andas de skate. Assim sei que tens a cabeça protegida se caíres.”

”Fico tranquila quando tomas o pequeno-almoço, assim sei que vais ter energia suficiente para aguentar a manhã toda na escola.” 

Faz sentido? Então, experimentamos?

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

3ª Edição do Curso Mindfulness Online

“Se amas alguem, o maior presente que lhe podes oferecer é a tua presença." ~Thích Nhất Hạnh

Após o sucesso das primeiras duas edições do curso de Mindfulness online lançamos agora a 3ª edição com conteúdo atualizado. 

O curso começa já no dia 7 de Outubro, inscreve-te agora que as vagas voam!





Mais informação e inscrições aqui. 



quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O Mundo das Consequências


© Mama Mia

Muitas pessoas, pedagogos, pais, profissionais da educação... falam sobre consequências. ”O comportamento tem que ter consequências!” ”Ele tem que saber/sentir as consequências!”

Em geral, estou de acordo. Mas quando falamos em consequências acredito ser importante saber que tipo de consequências pode haver, e se fazem sentido ou não (e se têm o ”efeito” que se deseja).

No fundo existem três tipos de consequências. 
  1. Consequências naturais. 
  2. Consequências lógicas.
  3. Castigos



Consequências Naturais
Consequências naturais são as consequências que acontecem sem a intervenção de ninguém. 



Exemplo: O Miguel quer calcar na poça de água, mas está sem galochas. 
Consequência natural: O Miguel molha os sapatos e tem de andar com os pés molhados.

Exemplo: A Sara não se quer levantar de manhã para ir a escola.
Consequência natural: A Sara vai chegar atrasada.

Exemplo: o João não quer comer à hora do almoço.
Consequência natural: Vai sentir fome antes do lanche.


Para as consequências naturais se poderem transformar em momentos de aprendizagem (muito valiosos), temos de evitar salvar a criança. E também temos de evitar emitir comentários como ”Bem te disse que estava frio”, ”Eu avisei que te ias molhar” etc. Em vez disso podemos servir de suporte empático e demonstrar a nossa compaixão, sem resolver a situação e sem criticar. 


Ao Miguel podemos dizer: ”Ó pá, ficaste mesmo molhado. Qual a sensação dos pés lá dentro?”

À Sara podemos dizer: ”Chegaste atrasada, foi? Mas conseguiste apanhar o segundo autocarro?”

Ao João podemos dizer: ”A tua barriga até está a protestar. Tanto barulho! Se calhar podes beber um copo de água para ela aguentar até ao lanche?”


Claro que há situações em que nós adultos não podemos deixar as consequências naturais acontecerem. Por exemplo:


  • quando as consequências poderiam ser muito graves (criança corre atrás da bola que atravessa a estrada); 
  • quando a consequência irá acontecer passado muito tempo (não quer lavar os dentes, quer muitos doces etc).; 
  • quando uma terceira parte será afetada (jogar à bola ao lado das janelas do vizinho, partir os brinquedos de um amigo etc.)

Nestes casos provavelmente será melhor desenvolver consequências lógicas. 


Consequências Lógicas
Uma consequência lógica acontece quando alguém intervém na situação e decide qual a consequência que vai haver. Utilizamos este tipo de consequências para ajudar a criança a aprender sobre responsabilidade e a desenvolver a mesma. Uma consequência lógica é uma consequência ligada à situação ou ao comportamento de uma forma lógica. Nunca pode ser uma reação de um adulto zangado e frustrado. Não existe para castigar a criança mas para contribuir para o seu desenvolvimento emocional e comportamental. 

É muito importante diferenciar consequências lógicas de castigos. 



Consequência lógica
Castigo

Tem ligação lógica ao comportamento/situação

Não tem ligação lógica com o comportamento/situação

Promove responsabilidade


Promove obediência


Deixa a criança fazer escolhas de acordo com as suas experiências

A criança fica dependente de outra pessoa para saber o certo e o errado

Deixa a criança ser o dono do problema e da sua solução

Faz a criança ter medo e muitas vezes negar o que fez



Exemplos:

A Rita parte a janela do vizinho.
Consequência lógica: A Rita tem de falar com o vizinho e procurar uma solução
Castigo: A Rita não pode ver televisão durante duas semanas. 

O Henrique não quer lavar os dentes:
Consequência lógica: O Henrique não vai poder comer doces nenhuns.
Castigo: O Henrique não vai ter história à noite. 


A Eva quer ficar a ver televisão durante mais 20 minutos para ver um programa até ao fim.
Consequência lógica: Não vai ter história ao deitar.
Castigo: Não vai poder ver mais o programa. 


A Ana tem muita dificuldade de se levantar de manhã.
Consequência lógica: A Ana vai ter de se deitar meia hora mais cedo.
Castigo: A Ana não vai poder utilizar o computador. 

O Rui e o Tiago brincam com o papel higiénico na casa de banho da escola. 
Consequência lógica: O Rui e o Tiago vão ter de arrumar e limpar a casa de banho.
Castigo: O Rui e o Tiago têm de ficar na sala da Diretora durante a tarde.


Quais os problemas com os castigos, talvez perguntes? Se uma única frase chegasse seria: 

Não funcionam! Tanto castigos como crítica diminuiem a auto-estima da criança e ela sente que não tem valor para outras pessoas. Facilmente cria tristeza e raiva (que pode ser exprimida ou não) e muitas vezes tem o efeito oposto daquilo que é o nosso objetivo como pais. A nossa ideia aqui é ajudar a criança a desenvolver responsabilidade, mas quando utilizamos castigos a probabilidade de a criança vir a evitar responsabilidade para se proteger é muito alta. Há criança que escolhem mentir, não porque são más ou realmente mentirosas, mas porque estão a proteger-se a si e à sua integridade. 

Agora se calhar também te perguntas como podes então utilizar as consequências lógicas? Espera mais alguns dias e podes vir aqui ler outro artigo! 



Se quiseres ler mais sobre este tema:

Já escrevi sobre castigos aqui

E recomendo vivamente este artigo (em inglês). 


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

As 5 Liberdades


© MamaMia


Muitas vezes fala-se em dar ou não liberdade às crianças. Discute-se que tipo de liberdade se deveria dar, como dar, quais os limites etc. A criança pode vestir o que quer? Comer o que quer? Decidir quando se deitar? Jogar computador e ver televisão as horas que quiser? Pode falar com quer? Pode escolher não fazer os trabalhos de casa? Tem de obedecer sempre os pais? 

Cada mãe e cada pai tem o seu conceito sobre o que é liberdade. Hoje gostaria de apresentar mais um conceito sobre o tema da Liberdade, desenvolvido pela terapeuta familiar Virginia Satir. 

Virginia Satir é muitas vezes considerada a Mãe da Terapia Familiar e contribuiu de várias formas para o mundo da Terapia (e os criadores da Programação Neurolinguistica também se inspiraram no trabalho desta especialista). 

Virginia Satir observou que muitos adultos aprenderam em crianças a negar os sentidos (é bom lembrarmo-nos que para a criança, os pais é que sabem ”a verdade” inclusive sobre o que ela própria está a sentir). Quanto mais a experiência da criança é negada, mas dificuldade ela vai ter na vida adulta em interpretar, reconhecer e observar os seus sentidos, os seus sentimentos e as suas emoções. 

Para ajudar as pessoas a conectarem-se com o seu corpo e o seu eu no momento, focando a atenção nos recursos interiores e escolhas possíveis no presente, Virginia Satir desenvolveu ”As 5 Liberdades” (quem se interessa por Mindfulness vai perceber que isto são conceitos de Mindfulness comprovados hoje em dia pela neurociência).  

São 5 Liberdades que podem ser utilizadas como afirmações e que acredito serem extremamente úteis promover em todas as relações e todas as situações... Nas relações com os filhos e nas relações românticas; na família, no trabalho, nas escolas... Se nós nos focarmos nestas liberdades, muitas vezes o resto da conversa sobre o que é liberdade torna-se mais ou menos irrelevante.

As 5 Liberdades são:

  1. A Liberdade de Ver e Ouvir (percepção) o que está aqui e agora, em vez do que foi, o que será ou o que deveria ser.
  2. A Liberdade de se dizer o que se pensa e sente, em vez do que se deveria pensar e sentir.
  3. A Liberdade de Sentir o que se está a sentir, em vez do que se deveria sentir.
  4. A Liberdade de exprimir o que se quer e deseja, sem esperar por autorização. 
  5. A Liberdade de correr riscos, em vez de jogar sempre pelo seguro. 

Pára agora um pouco e lê as liberdades novamente. Reflete sobre como seria a tua vida se sentisses sempre estas liberdades. Como seriam as tuas relações? Com o teu parceiro? Os teus pais? Os teus filhos?

Fica com isto um pouco. 

Quando vivemos as nossas relações com estas cinco liberdades na base estamos a promover uma comunicação autêntica. Deixamos os julgamentos de lado. Promovemos um aumento de auto-estima e possibilitamos o crescimento do amor-próprio. E ficamos num bom caminho para viver um amor incondicional. 

Qualquer família experiencia conflitos. É saudável viver conflitos e contribui para o desenvolvimento de todos. Com as 5 liberdades criamos espaço para diferenças de opinião, criamos espaço para o amor em vez do medo. Não julgamos acontecimentos, opiniões, sentimentos e emoções dos outros. Criamos um ambiente onde há sempre espaço para a verdade. Um ambiente onde não é necessário saber dizer as coisas da forma certa, esconder partes da história ou apenas dizer o que é considerado aceitável. Um ambiente para desenvolver uma boa auto-estima!

Quantos de nós em criança ou adolescente sentimos que houve vezes em que não podíamos contar a verdade toda? E quantos de nós queremos que os nossos filhos contem sempre a verdade toda?

As crianças vão obrigatoriamente modelar a forma como os pais se exprimem. E se quiseres dar um bom presente aos teus filhos, fala sobre os teus sentimentos, as tuas emoções, as tuas necessidades. Fala de ti! Na primeira pessoa! 

Como pais é bom termos em mente que é completamente natural sentirmo-nos frustrados! É natural que o que os nossos filhos façam, tenha muitas vezes um efeito stressante sobre nós. E é bom as crianças poderem ouvir o que se realmente passa no nosso interior, mesmo quando são coisas mais sensíveis e difíceis. E quando os nossos filhos conseguem fazer o mesmo connosco, é uma dádiva! 

Convido-te a olhar para as 5 liberdades todos os dias durante pelo menos uma semana. Procura integrá-las nas tuas interações durante o dia (com filhos, parceiros, amigos, colegas...), e observa o que acontece!