quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Poder de Definição



Como adultos temos um poder incrível sobre os nossos filhos e as crianças à nossa volta. Acredito que é essencial utilizarmos esse poder de uma forma consciente e com muita atenção. Há um tipo de poder que as vezes nos esquecemos, o poder de definição. O poder de definição que os adultos têm sobre as crianças é forte, e se não estivermos muito atentos é muito pouco óbvio.

Temos todos ideias (limitadoras) de como nós próprios somos. Sou ansiosa. Tenho dificuldades de concentração. Como muito. Irrito-me com facilidade....

De onde vêm estas ideias? Porque começaste a definir a tua personalidade de uma certa forma? 



A forma que falamos sobre uma criança, a forma que a definimos, vai afetar e formar a sua auto-imagem. Sou assim…

E temos que ser praticamente adultos, e ter uma boa auto-estima, para termos coragem de questionar a imagem que os outros têm de nós.

Quando digo diretamente à criança:
-Tu estas cansado.
- Portas-te sempre mal.
- És muito chato.
- Nunca ouves.
- Não consegues sozinho.
- És muito falador.

Ou quando falo sobre ela com um outro adulto (na presença dela):
- Ela é muito ansiosa.
- Ele tem dificuldades de concentração.
- Ele é violento.
- Ele é nervoso.
- Ela é desorientada.
- Ele é hiperativo.

O que estou a fazer?
Exatamente, estou a utilizar o meu poder de definição sobre a criança, mas também tenho o que podemos chamar "o privilégio de formular o problema" o que também faz com que eu como adulta, tenho o poder da solução... Vale a pena refletir um pouco sobre isso... não achas?

As minhas palavras sobre à criança podem ter nomeadamente dois efeitos...

1.Quando digo o que a criança sente (frio, fome, zanga…), como a criança confia mais nos adultos/pais do que nela própria, estou a priva-la de aprendizagens importantes sobre auto-responsabilidade. Em vez de fazer uma afirmação, sugiro que transformes o que queres dizer numa pergunta, ou numa frase tipo “Parece-me que estás zangado.”

2.Quando descrevo a personalidade da criança estou a afetar a sua auto-imagem. E o que acontece quando a criança cria uma auto-imagem de ser ansiosa/violenta/hiperativa? É uma “selfulfilling  prophecy” , uma profecia que se vai realizar por ela própria….

A minha sugestão é fazermos um jogo de palavras. Vamos trocar as palavras com uma conotação negativa por palavras mais positivas, é que, se a auto-imagem da criança é afetada pelas palavras negativas, também reage às palavras positivas, certo? Se em vez de dizermos "Ele tem dificuldades de concentração", disséssemos "Ele está sempre muito atento ao que se passa a volta."... Será diferente?

Em baixo encontras uma pequena lista de mais exemplos. Experimenta e vê o que acontece! Será que a criança reage de uma forma diferente? Será que as minhas soluções e o meu comportamento perante a criança muda?.....

Mandão              líder natural
Compulsivo         eficiente, atento ao detalhe
Palhaço              gosta de se divertir
Provocador         crenças fortes, corajoso
Calado               pensador, refletivo
Teimoso            determinado, persistente
Não focado         processa muita informação
Fala alto            confiante
Falador              bom comunicador
Tímido               cuidadoso
Quer atenção      expressa necessidades
Desobediente      independente, explora limites
Impulsivo           espontâneo
Medroso             pensativo, cuidadoso
Mau                   procura poder
Intrometido        curioso
Desafiador          integridade forte

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Amor incondicional?


Quando se fala na relação entre pais e filhos há uma expressão que é basicamente sempre utilizada, o amor incondicional. Praticamente todos nos dizemos que sentimos amor incondicional pelos nossos filhos. Poucas são as pessoas que realmente refletem sobre como expressam esse amor incondicional, como ele é passado, e experienciado, pelos filhos. 
Como sabes que os teus filhos sentem o teu amor incondicional? Qual a forma que os teus filhos têm para avaliar o teu amor?

Isso mesmo, através do teu comportamento e a tua comunicação (as palavras, o tom de voz e a não-verbal). 

A única forma que temos de mostrar o nosso amor incondicional é através de essas duas ferramentas, o nosso comportamento e a nossa comunicação.


Nos meus seminários costumo falar sobre como os nossos filhos (e outras pessoas também!) podem sentir o nosso amor. Podemos dividir o nosso comportamento e a nossa comunicação em três formas.

Amor Incondicional
Comportamento e comunicação que vêm do amor incondicional, e que é interpretado pelos nossos filhos como amor incondicional é reinado pela sensação de igual valor. Tu e eu, todos, temos igual valor. As nossas opiniões, as nossas emoções e sensações, as nossas necessidades e vontades, têm todos igual valor. Na relação pais e filhos isso não quer dizer que a criança consegue sempre o que quer, só quer dizer que a criança sente que é respeitada, vista, ouvida e reconhecida.

Uma criança que é tratada com amor incondicional sente empatia, confiança e segurança. Aprende que há uma diferença entre aquilo que faço e aquilo que sou. Sente que é amada independentemente do comportamento certo e errado, se tem resultados bons ou menos bons na escola, no desporto.

Amor Condicional
A avaliação, os elogios, os prémios e as recompensas, as ameaças, as consequências são todas coisas que o inconsciente da criança vai interpretar como amor condicional. Só me amam se… Quando dizemos ao nosso filho que se ele se portar-bem, vai ter um gelado ou se ele não comer a sopa toda, vai diretamente para a cama, estamos a ter um comportamento que vem de um sítio onde reina o amor condicional.

Crianças que vivem num ambiente com muito amor condicional tornam-se dependente dos elogios, das recompensas e dos prémios. Acham muitas vezes que a vida é uma competição, querem sempre ser melhor que os outros e sofrem quando não são. É normal que se tornem mais egocêntricas e focam se muito no certo e errado.

Sem amor
Acho que a maioria de nós já tivemos comportamentos que os nossos filhos interpretaram como comportamento sem amor. Gritos, castigos… palmadas. Mas sem amor também pode ser silêncio, ignorância, total ausência e desinteresse. Aqueles momentos em que o nosso filho quer a nossa atenção mas estamos demasiado ocupados a ver o feed do facebook... São todos exemplos de comportamento sem amor. Podemos ter as melhores intenções, mas o que realmente interessa é a forma como o inconsciente do nosso filho interpreta aquilo que estamos a fazer e dizer.  Uma criança que cresce num ambiente dominada pelo comportamento com falta de amor costuma-se tornar insegura, sente-se inferior, sente culpa e vergonha e normalmente acontece uma de duas coisas, ou torna-se invisível, ou torna-se muito extrovertida, desafiante e "difícil". 

Claro que são poucas as crianças que vivem num mundo extremo onde reina só um destes tipos de comportamento. A maioria de nos fazemos de tudo, mais ou menos. 

O teu filho sente o teu amor incondicional a maior parte do tempo? 
É uma boa pergunta para nós fazermos. Admito que há momentos, embora poucos, em que os meus filhos podem ter algumas dúvidas.... 

O mais importante é termos sempre em mente é que a autoestima dos nossos filhos será determinada pela mescla de comportamentos onde ela cresce. A questão é, temos sempre uma escolha. Queremos uma criança confiante, feliz, com boa autoestima ou não?